Segundo Ano
História do Brasil
Primeiro Bimestre
Os caminhos da política imperial brasileira
A escravidão existia na África muito antes da chegada dos europeus, sancionada pelas leis e pelos costumes das várias regiões desse continente. O sofrimento, imposto pelo tráfico negreiro, começava em terras africanas, antes mesmo de os cativos serem embarcados nos navios negreiros.
No primeiro século da escravidão, os índios representaram a principal mão de obra nas atividades econômicas da América Portuguesa.
Gradativamente, foram sendo substituídos pelos africanos, que se tornaram, como disse um cronista da época, “as mãos e os pés” dos senhores. Entre o final do século XVI e as últimas décadas do século XIX, os escravos negros tornaram-se a mão de obra por excelência da América Portuguesa.
A economia agroexportadora necessitava, para sua realização, de grandes extensões de terra, especialmente de um só produto e mão de obra compulsória. A disponibilidade de terras na América Portuguesa poderia gerar, se houvesse a predominância do trabalho livre, o trabalho familiar, o minifúndio, estatutos incompatíveis com as necessidades de exportação agrícola da metrópole. Assim, o trabalho escravo completava o latifúndio e a monocultura, imprescindíveis para o sucesso da economia agroexportadora implantada na América Portuguesa.
A substituição do trabalho indígena pelo trabalho escravo africano pode ser explicada por uma série de fatores. A metrópole possuía o monopólio do tráfico negreiro, e os traficantes portugueses trataram de convencer os proprietários de terras que os negros eram melhores trabalhadores que os indígenas. A Igreja ajudou bastante nesse trabalho de convencimento, uma vez que condenava a escravidão indígena. Por isso, gradativamente, a mão de obra tornou-se preponderante nas atividades econômicas da América Portuguesa.
Os indígenas também continuaram trabalhando sob a vigilância e o comando dos jesuítas nas chamadas reduções, onde se exploravam as drogas do sertão – pimenta, cravos e outras especiarias – em especial na região norte da América Portuguesa. Foram também utilizados nas áreas de criação de gado e na exploração de terras minerais.
Ser escravo na América Portuguesa
Os escravos negros foram empregados, no Brasil, nas mais diversas atividades.
Nas áreas de produção de açúcar, os negros cuidavam do plantio da cana, da limpeza dos canaviais, retirando as ervas daninhas, da colheita, do transporte da cana dos canaviais às moendas, das fornalhas e das caldeiras nos engenhos.
O engenho funcionava durante o dia e à noite. Alguns escravos trabalhavam exclusivamente no setor fabril do engenho. Outros se dedicavam, de dia, ao trabalho nos canaviais e, à noite, nas moendas que funcionavam dezoito a vinte horas por dia, interrompendo seu funcionamento apenas para a limpeza do maquinário. Era nesse curto espaço de tempo que os escravos descansavam.
Entretanto, não foi só nas plantations açucareiras que predominou o trabalho escravo negro. Eles foram também escravos domésticos, servindo seus senhores em suas casas, dedicaram-se ao trabalho de criação de gado e em todos as atividades para as quais fossem requisitados.
Na região mineradora, os escravos trabalhavam em busca de ouro e do diamante nos ribeiros, nas catas e nas grupiaras. Nessas regiões, foram também donos de venda e negras de tabuleiro.
Apesar do trabalho árduo dos escravos negros, a recente historiografia, apoiada em novas evidências documentais, desconstrói o mito do escravo “coisa”, uma mera mercadoria, sem personalidade e vontade próprias. Além disso, desmistifica a ideia de escravo “vítima” do sistema, baseado no “imaginário do tronco”.
Os escravos negociavam com seus senhores, tinham várias regalias e, muitos deles possuíam escravos. Ou seja, muitos escravos conseguiram, como agentes históricos que foram, encontrar formas de acomodação à escravidão. Aqueles que não conseguiram se acomodar, ou não quiseram faze-lo, buscaram formas para reagir contra a escravidão por meio da formação de quilombos, das fugas individuais, de assassinato de senhores, da feitiçaria e das tentativas de fazer eclodir revoltas escravas. Seja como for, acomodando-se ou não, os escravos negros agiram como sujeitos históricos e assim devem ser estudados.
Professor explica aspectos da escravidão no Brasil
Marcus Vinícios de Morais é professor de história do Cursinho Oficina do Estudante, em Campinas. Tema costuma ser cobrado nos vestibulares.
Professor explica a violência cometida contra os escravos
Revolução Árabe
Pio Penna Filho
Um mar de incertezas paira sobre o mundo árabe. A escalada de protestos contra os governos instalados na maior parte dos países árabes não cessa e a apreensão assumiu um novo patamar com a brutal repressão desencadeada pelo regime líbio contra os manifestantes.
Aspecto marcante no que está acontecendo em vários países árabes é o elevado grau de incerteza com relação ao futuro imediato. O que temos é o fato de que a insatisfação com os governos chegou ao ponto da derrama, ou seja, ganhou as ruas com uma intensidade impensável apenas alguns meses atrás.
Os exemplos da Tunísia e do Egito inflamaram parte das sociedades árabes em diferentes países, principalmente porque nesses dois casos os regimes caíram. Enquanto alguns governos vem sinalizando com a possibilidade de algumas reformas, muitas das quais bastante superficiais, a resposta do regime de MuammarGaddafi foi intensificar a repressão de forma a enquadrar os manifestantes, independente do custo humano.
É difícil prever os resultados práticos, em termos políticos, dessa resposta extremamente violenta. Alguns possíveis cenários: a) pode conter o ímpeto dos manifestantes e reafirmar a autoridade governamental; b) pode radicalizar o processo e levar o país a uma verdadeira guerra civil, sobretudo se parte das forças armadas subitamente mudar de lado; c) pode aumentar a pressão internacional sobre o governo líbio e, ao mesmo tempo, ser insuficiente para conter as manifestações populares. Nesse último caso, um longo desgaste e o prolongamento dos conflitos pode levar à queda do regime, mas não sem antes deixar um quadro terrível de morte e destruição.
De toda forma é preciso tratar cada caso considerando suas especificidades. A Tunísia não é o Egito assim como o Egito não é a Líbia. Embora a insatisfação e o desejo de mudança seja um sentimento comum no atual quadro político dos estados árabes, as peculiaridades precisam ser respeitadas.
No Egito, por exemplo, o peso das forças armadas foi determinante para a queda do regime de Mubarak. Sem o apoio das forças armadas restaram poucas alternativas para o governo. Na Líbia, qualquer análise precisa levar em consideração a forma como Gaddafi construiu o seu regime, considerando lealdades tribais, carisma, aparelho repressivo e desafio ao mundo ocidental, que são algumas de suas marcas registradas.
Mas independente de ser a Líbia, o Egito ou a Tunísia, ou ainda qualquer outro estado da região, o que deixa o analista atônito é a incerteza com relação ao que virá. Para começar, existem muitas dúvidas sobre as chances reais de implementação de regimes verdadeiramente democráticos na região.
Enfim, tudo pode acontecer. É possível a islamização ainda maior da política, assim como é possível também um processo de relativa laicização dos estados árabes. As variáveis são muitas. Por um lado, o que parece mais próximo de acontecer é uma redefinição das relações que envolvem os estados árabes e os Estados Unidos e, por outro, mudanças substanciais na relação entre os estados e suas sociedades, o que por si só já significa uma grande revolução.
*Professor do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e Pesquisador do CNPq. E-mail: piopenna@gmail.com
Entretanto, estudos mais recentes mostraram que ainda que esse tripé seja válido para as plantações de cana-de-açúcar, ele é insuficiente para explicar o funcionamento da economia canavieira como um todo.
A cultura da cana-de-açúcar tem um setor agrícola, que compreende as plantações, que é realmente fundado no latifúndio monocultor escravista. Contudo, apresenta também um setor fabril – o engenho – que pede uma caracterização mais ampla. Por isso, foi utilizado o termo Plantation, que significa um latifúndio monocultor em que há o beneficiamento do produto, no nosso caso, a transformação da cana em açúcar visando a exportação.
Observe atentamente esta imagem. Na imagem vemos um engenho, que foi, na época da economia açucareira da América Portuguesa, um sofisticado artefato mecânico. Nele, se dava todo o processo de transformação da cana em açúcar. Nesse espaço atuavam diversos tipos de trabalhadores responsáveis pelas inúmeras tarefas que a produção e a preparação para a exportação exigiam. No engenho atuavam, homens livres e assalariados, a exemplo dos mestres de açúcar, entretanto a maioria dos trabalhadores era constituída por escravos africanos.
Por tudo isso amigos, o termo Plantation é mais adequado, porque explicita essa importante face fabril da economia açucareira.
Neste capítulo, você irá estudar também, alguns aspectos relacionados ao escravismo colonial. Tema este que sofreu uma das maiores revisões historiográficas dos últimos tempos. Desde as análises marxistas que viam os escravos como meras mercadorias, como seres moventes, desprovidos de vontade própria, explorados, oprimidos e invariavelmente castigados por seus senhores, a historiografia caminhou um bocado.
Hoje, a escravidão é encarada como uma gama de possibilidades de negociações envolvendo senhores e escravos; onde os cativos são vistos como agentes históricos com vontade própria, capazes de fazer valer os seus direitos na justiça; possuir terras a chamada brecha camponesa; ajuntar um certo pecúlio, vender seus produtos no mercado e por aí vai.
Agora, é claro que não se pode negar o caráter violento da escravidão. Sobre esse tema, vale a pena reproduzir um trecho dos historiadores Douglas Cole Libby e Eduardo França Paiva:
Pense sobre o que você acabou de ler e discuta:
* De acordo com a problematização do tema, por que o termo plantation é mais adequado para caracterizar a economia açucareira?
* Quais foram os avanços apresentados pela autora no que se refere à historiografia da escravidão colonial?
* Quais traços permaneceram na análise desse mesmo tema?
* Como era encarada a violência na Idade Moderna?
É preciso lembrar que o castigo e a violência física faziam parte do dia a dia da sociedade como um todo, marcando as relações entre pais e filhos, esposo e esposa, mestres e alunos. Uma clara expressão da legitimidade do castigo violento era o direito que o Estado tinha de aplicar pena de morte em pessoas vistas como ameaças à ordem social. Esse direito foi amplamente exercido durante todo o período escravista, tirando a vida de livres e cativos. Considerando esse contexto histórico, podemos afirmar que, apesar das injustiças, os escravos também compartilhavam da noção de legitimidade do castigo, embora, evidentemente não gostassem dele. Assim, por exemplo, os libertos que se tornassem senhores de escravos – e eles eram numerosos – não hesitavam em aplicar castigos físicos nos seus cativos, quando julgavam necessário.
LIBBY, Douglas Cole & PAIVA, Eduardo França. A escravidão no Brasil. Relações sociais, acordos e conflitos. São Paulo: Moderna, 2000. p. 39. Neste capítulo você vai estudar, ainda, as atividades que se desenvolveram juntamente com a cultura de cana-de-açúcar, além da presença holandesa na área de produção açucareira.
Saiba mais sobre a Plantation Escravista na América Portuguesa