segunda-feira, 14 de outubro de 2013

Unesp 2013/2 (2ª Fase)

Confira a resolução das questões de História do Vestibular 2013/2 (segunda fase) da Unesp


Questão 01

 
Era uma doença exótica, contra a qual os organismos dos europeus não tinham defesas. Veio da Ásia pela rota da seda. Veja: a epidemia, essa catástrofe, é, portanto, também um dos efeitos do progresso, do crescimento.

 

                                       (Georges Duby. Ano 1000, ano 2000. Na pista de nossos medos, 1998.)
O texto refere-se à peste que atingiu a Europa no século XIV. Indique dois fatores, além da falta de defesa dos organismos dos europeus, que ajudaram na propagação da doença, e explique a associação, feita pelo texto, da peste.
Resposta:

Além da falta de defesa do organismo do europeu, deve se destacar como fatores preponderantes para a propagação desta doença altamente contagiosa a ausência de condições sanitárias e de higiene adequadas na Europa do século XIV e a intensificação das trocas comerciais entre as várias regiões da Europa, resultando em uma maior movimentação de pessoas que contribuiriam para que a doença se disseminasse. Georges Duby quis destacar em seu texto, como o avanço mercantil trazido pelo Renascimento Comercial (séculos XII-XIII) trouxe uma nova realidade para a Europa, marcada pelo estabelecimento de inúmeras rotas comerciais e crescimento urbano acentuado. A Europa vivia, naquele século, um forte crescimento econômico e a dinamização da vida urbana, indicando um período de progresso.
Contudo, esse mesmo contexto contribuiu para que a peste avançasse ao facilitar os contatos interpessoais e ao concentrar as pessoas em cidades ainda lúgubres e pouco higiênicas, nas quais os ratos proliferavam e, por consequência, a própria doença que suas pulgas transmitiam.

Questão 02
 


O rei, nosso Senhor e amo, dorme o sono da... indiferença. Os jornais, que diariamente trazem os desmandos desta situação, parecem produzir em Sua Majestade o efeito de um narcótico. Bem aventurado, Senhor! Para vós, o reino do céu e para o nosso povo... o do inferno!

           (Angelo Agostini. Revista Illustrada, 05.02.1887. Adaptado.)

Cite dois elementos presentes na charge ou na sua legenda, que mostrem críticas ao imperador D. Pedro II, e identifique duas dificuldades enfrentadas pela monarquia nas décadas de 1870 e 1880.
 
Resposta:



A famosa charge de Ângelo Agostini não deixa de representar o imperador como um sábio (cercado por jornais em sua biblioteca), porém busca retratá-lo também como um homem cansado e pouco preocupado com os acontecimentos que o cercam, tais como a crise que seu próprio regime político vivia. Repare que enquanto ele cochila, o país (o nome do jornal que repousa em seu colo não é mero acaso) é deixado de lado e não recebe a sua atenção. Aqui Agostini critica a inércia imperial diante dos problemas nacionais e acusa o Imperador de se preocupar mais com sua erudição que com seu papel de comandante de uma nação. Ao falar em "indiferença" na legenda e no efeito que os jornais produzem sobre ele apenas são reforçadas as críticas já perceptíveis na própria charge. As décadas de 1870 trouxeram três questões internas delicadas para o Império, com as quais ele precisou lidar: a questão militar que envolvia as pressões do exército brasileiro para exercer um papel mais atuante na política nacional; a questão religiosa provocada pelas disputas entre a Cúria Romana e a maçonaria que acabou afetando as relações do Império com a Igreja; a questão escravista marcada pela resistência aristocrática em aceitar o fim da escravidão diante do cenário inegável de saturação do regime.

Questão 03

 Augusto Bandeira.Correio da Manhã, 08.07.1962. In: Rodrigo Patto Sá Motta. Jango e o golpe de 1964 na caricatura, 2006. Adaptado.)
A charge representa João Goulart e Juscelino Kubitschek. A que episódio político a imagem se refere? Qual é o contexto político interno em que tal episódio se insere? Justifique sua resposta.
 


Resposta:



É preciso contextualizar o período no qual a charge se insere para entender completamente seu conteúdo. Após a renúncia do presidente Jânio Quadros em 1961, o país viveu um curto período de intensa tensão, quando o governador gaúcho Leonel Brizola formou a Rede da Legalidade com o objetivo de garantir a posse do vice presidente João Goulart diante da recusa dos ministros militares em aceitá-lo novamente no Brasil (Jango encontrava-se em viagem oficial pela China naquele momento). Como forma de evitar um confronto de terríveis resultados para o país, o Congresso Nacional aprovou a instalação do regime parlamentarista no Brasil de forma provisória, até a realização de um plebiscito que estava marcado para o ano de 1964. Jango pôde assumir a presidência, mas a partir daí e com a ajuda de seus aliados políticos, inicia um processo de desgaste do regime parlamentarista com a sucessão de quatro primeiro ministros em um ano e meio. A sensação de ineficácia e confusão trazidas pela ausência de um primeiro ministro forte e seguro, ajudaram políticos da base de Jango, como JK, a aprovar a convocação de um referendo antecipado para 1963, pelo qual caberia ao povo decidir pela permanência do parlamentarismo ou retorno do presidencialismo. A charge enfoca justamente este momento, no qual Jango, JK e outros políticos conseguiram, ao antecipar o referendo, decretar o fim do parlamentarismo, decisão confirmada pelo voto popular.
Questão 04

Nelson Mandela tomou posse ontem como o primeiro presidente negro da África do Sul, marcando o fim de três séculos e meio de dominação branca e o retorno do país à comunidade internacional. “Que reine a liberdade”, afirmou o líder de 75 anos após prestar juramento. Numa vibrante cerimônia que reuniu dezenas de milhares de negros e muitos brancos no antigo centro do poder branco, Mandela pediu que os sul africanos esqueçam os rancores do passado e se unam para por fim à pobreza, ao sofrimento e a todo tipo de discriminação.
                                 (O Estado de S.Paulo, 11.05.1994. Adaptado.)

Caracterize o regime político que antecedeu à chegada de Nelson Mandela à presidência sul africana, em 1994. Por que é possível afirmar que, além das mudanças políticas que provocou na África do Sul, a posse de Nelson Mandela na presidência teve importante caráter simbólico?



Resposta:
Antes da eleição de Mandela predominou na África do Sul um regime segregacionista denominada de Apartheid. Instalado pela minoria branca africânder de origem holandesa em 1948, este regime político propunha a separação de negros e brancos como forma de permitir que os dois grupos se desenvolvessem plenamente dentro do limite de suas capacidades evolutivas. Indiscutivelmente racista, esta política foi responsável por provocar desigualdades gritantes entre o modo de vida da população branca e negra na África do Sul, esta última sendo submetida a condições aviltantes de sobrevivência e totalmente alijada de participação política.
A posse de Mandela foi simbólica por diferentes razões. Primeiro, ele foi uma das principais vítimas do regime, permanecendo preso por três décadas, contudo seu pedido de tolerância e de esquecimento do passado marcam a tentativa de um recomeço, de refundar a nação Sul Africana. Por outro lado, Mandela era um negro assumindo o poder exatamente no espaço que sempre fora reservado e ocupado pelos brancos, quebrando simbolicamente o significado daquele espaço
 

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