sábado, 6 de abril de 2013

PUC RJ 1999

Depósito de questões de vestibular
Pontifícia Universidade Católica (PUCRJ) 
História
Prova discursiva 1999

 
 Enunciado das questões e gabarito .

1
A partir do final da Guerra do Paraguai (1870) aumentou de modo significativo o número de imigrantes europeus, em especial italianos, chegados ao Brasil.
1.1 Servindo-se também dos dados da tabela abaixo, apresente uma (1) razão para a saída dos imigrantes italianos de sua terra de origem e uma (1) razão para a sua vinda para o Brasil.



a) Razão de saída da Itália:


Resposta:
a) Ao se completar no início dos anos setenta do século passado, o processo de unificação da Itália tendeu a subordinar os interesses do Sul agrário aos do Norte industrializado, do que resultou de imediato a desorganização das formas tradicionais da vida econômica do Sul e, como decorrência, a expulsão dos camponeses de suas terras.
 
b) Razão de vinda para o Brasil:


Resposta:
b) A tabela indica que os imigrantes dirigiram-se preferencialmente para São Paulo – "il Paese della fazenda" -, por onde se expandiam os cafezais pela férteis terras do Oeste Novo. A propaganda feita pelas companhias encarregadas de recrutar trabalhadores na Europa punha em destaque as possibilidades abertas pela lavoura cafeeira para os que pretendiam iniciar uma "nova vida". O fato de as despesas da vinda para o Brasil terem passado a ser financiadas pelo governo contribuía para a aquela opção, sobretudo no momento em que países como os EUA, que tradicionalmente eram grandes receptores de mão-de-obra de origem européia, começavam a impor restrições à entrada dos mesmos.

 
1.2 No decorrer do século XIX, a utilização do trabalhador imigrante europeu no Brasil ocorreu sob duas formas principais: o sistema de parceria, utilizado inicialmente pelo Senador Vergueiro em sua fazenda em Ibicaba, e a imigração subvencionada. Caracterize duas (2) diferenças entre essas formas: 



Resposta:
a) No sistema de parceria, o imigrante era responsável pelas despesas de viagem e instalação no país; sob a imigração subvencionada, aquelas despesas cabiam ao governo, do que resultava o fato de que os imigrantes chegavam às fazendas de café sem dívidas, o que lhe permitia viver mais intensamente a representação de ser um "trabalhador livre".
b) No sistema de parceria a mão-de-obra imigrante era vista como um suplemento ao trabalho escravo, do que resultava que o ritmo e a organização do trabalho eram ditados pela lógica da escravidão. O trabalhador percebia por seu trabalho a diferença entre o rendimentos dos pés de café de que cuidava e as despesas que realizara na fazenda, do que resultava com freqüência o seu endividamento e a impossibilidade de mudar de propriedade e de patrão, ou seja, de se auto-representar como um trabalhador livre. No sistema de imigração subvencionada, o colono recebia uma dupla remuneração: uma parte fixa e outra variável, proporcional aos pés-de-café de que cuidava juntamente com sua família. Esta parte variável constituía-se em incentivo para o aumento de sua produtividade, abrindo-lhe ainda a possibilidade de acúmulo de um pequeno pecúlio. Ao lado disso, podia dispor como desejasse, inclusive vendendo, dos gêneros de subsistência que cultivava nas terras entre os cafezais.
 

"A onda revolucionária na Europa após 1917 gerou imediatamente uma resposta contra-revolucionária. Entretanto, tal resposta não significou o retorno à religião e a uma rígida estratificação social, com as quais muitos conservadores europeus tradicionais tentaram, no passado, enfrentar as ameaças revolucionárias. Desta vez, havia um novo fenômeno - o fascismo ou nazismo - e uma nova sociedade, em que comícios de rua proliferavam e multidões entusiasmadas aplaudiam a pregação de líderes uniformizados contra socialistas, intelectuais, estrangeiros e judeus." - Robert O. Paxton, Europe in the 20th Century. NY: Harcourt Brace Jovanovich, 1991
Tendo como referência o texto acima,

Dê dois (2) exemplos de como, em seu apelo às massas, o discurso fascista ou nazista justificou a necessidade de oposição ferrenha aos socialistas, liberais e estrangeiros.
 


Resposta:
O aluno poderá selecionar DOIS exemplos, que envolvam cada qual uma das muitas características listadas a seguir, sobre o discurso fascista/nazista dirigido às massas em oposição aos socialistas, liberais e estrangeiros:
Anti-liberalismo: Expressa-se particularmente na:

  • defesa do sindicalismo corporativista como uma doutrina que possa superar as idéias do laissez-faire da economia liberal;

  • idéia de economia crescentemente planejada em função dos interesses sociais, representados pelo Estado corporativo;

  • concepção de um Estado total que invada as diferentes esferas da vida social (família, escolas, trabalho, lazer, etc);

  • negação dos valores racionalistas do século XIX;

  • oposição aos poderes constitucionais clássicos, de representação parlamentar, incentivando em seu lugar a ação direta dos fasci de combate (bandos armados buscando a ‘justiça’ pelas própria mãos) e, posteriormente, a aceitação da supressão das liberdades políticas com o Estado de sítio;

  • proposta de um Estado autoritário e popular, guiado pelo líder – o füher ou o duce

  • proposta de uma sociedade de combatentes e produtores (contemplando os interesses sobretudo dos pequenos proprietários e pequenos comerciantes) contra o grande capital, identificado à ação dos trustes industriais e dos grandes financistas; etc
Anti-socialismo: Expressa-se sobretudo no:

  • temor da pauperização que atinge os setores médios urbanos no entre-guerras (mercado de trabalho comprimido + perda de status) num momento de grande ascenção do sindicalismo organizado, de crescimento dos partidos socialistas e da criação dos partidos comunistas na Europa, com o propósito de "fazer como na Rússia";

  • propósito de substituir a autonomia do movimento sindical por um sindicalismo atrelado ao corporativismo do Estado;

  • encaminhamento do fim da luta de classes, propondo a reconciliação dessas sob uma ordem corporativa e em nome da Nação, como interesse maior;

  • entendimento de que o marxismo é ao mesmo tempo inimigo e aliado do grande capital e, em alguns casos, aliado do judaísmo; etc
Perseguição aos estrangeiros: Expressa-se no:

  • desenvolvimento entre a população de europeus menos esclarecidos de um conjunto de concepções racistas , sob a forma de antisemitismo (o que tornava lugar comum, desde o século XIX, as políticas de russificação do czar dirigidas a vários povos e a conhecida prática dos pogroms contra os judeus);

  • revivalismo da hostilidade cristã medieval aos judeus, que se vê reforçada pela pregação das teorias racistas do século XIX, defensoras da eugenia;

  • o medo de perda da identidade cultural, como defendia Oswald Spengler em seu O Declínio do Oeste (1919): para este autor a "cultura"(identificada a tradições alemãs há muito enraizadas que diferiam dos valores mais gerais dos europeus ocidentais) estava sendo esmagada pela "civilização" (o cosmopolitismo e a cultura de massa comercializada que então se tornava marca do Ocidente); defendia por isso uma verdadeira cruzada contra os estrangeiros pela defesa dos valores "viris e espirituais germânicos";

  • expansionismo italiano (na tentativa de volta à glória da Roma Imperial) e germano-austríaco (na tentativa de reunificar o povo alemão disperso entre judeus e eslavos em muitas partes da Europa central);

  • conjunto de legislações restritivas aos estrangeiros aplicadas em vários países: proibindo o casamento com elementos identificados ao grupo ariano, estabelecendo quotas nas profissões e reduzindo a cidadania de alguns grupos étnicos;

  • a imposição, em alguns casos, de migrações forçadas, seguidas da expropriação de bens e, após os Decretos de Nuremberg (1935), o envio aos campos de concentração (de judeus e outros) torna-se de praxe na Alemanha.

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